O termo sítio específico, vem das artes visuais e, geralmente trata de obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado. Trata-se, em geral, de trabalhos planejados – muitas vezes fruto de convites – em local certo, em que os elementos esculturais dialogam com o meio circundante, para o qual a obra é elaborada (ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras).
A noção de site specific liga-se à idéia de arte ambiente, uma tendência da produção contemporânea de se voltar para o espaço – incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou áreas urbanas.
Relaciona-se de perto à chamada land art [arte da terra], que inaugura uma relação com o ambiente natural. Não mais paisagem a ser representada, nem manancial de forças passível de expressão plástica, a natureza é o locus onde a arte se enraíza.
A arte que se relaciona com o território, ou a arte realizada em espaços comunitários e abertos pode ser pensada como sítio específico?
Algumas dessas ações remetem à noção de arte pública, que designa, em seu sentido corrente, a arte realizada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela, os museus e galerias. A ideia que se trata de arte fisicamente acessível, que modifica a paisagem circundante, de modo permanente ou temporário.
A arte pensada como comunitária vai além da questão estética proporcionada pelo ambiente, pensa no território a partir das pessoas, fluxos e encontros, que para além da estética são políticos.
O termo “artes comunitárias” surgiu em meados dos anos 60, nos Estados Unidos, bem como em numerosos países da Europa, como aponta Kate Crehan (2011) em Community Art: An Anthropological Perspective. Nesta mesma obra, a autora refere que, na prática, o que definia as artes comunitárias no seu conjunto, era muito mais uma partilha de ethos, do que propriamente uma estética (CREHAN, 2011).
Pensar num ethos. MAs o que é ethos?
Ethos (em grego antigo ἔθος : ‘hábito, costume, uso’; ἦθος ‘caráter, disposição, costume, hábito’) é o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter ou a identidade de uma coletividade.
A arte pode ser uma forma de pensar sobre a identidade de um bairro – como é o caso das ações que estamos promovendo na Colaboradora. Essas performances, sobretudo que se dão no espaço público, passam a promover improváveis relações, fortalecer laços de vizinhança e estabelecer pontos de contato entre os membros dessa população, ou de uma comunidade urbana, com os artistas e com o equipamento cultural.
“A arte também pode ser entendida como uma forma de conhecimento que traduz e materializa uma multiplicidade de modos de sentir e de expressar o mundo. A herança cultural de cada indivíduo, o seu percurso e as memórias que consigo transporta, condicionam a percepção daquilo que o rodeia e, consequentemente, o seu sentir. As práticas artísticas em comunidade, quando sinceras no seu propŃsito e lexģveis na sua aplicação e adequação aos contextos em que se inserem, podem ser um veículo para a implementação de novos hábitos culturais, novas hipóteses de relação dos indivíduos entre si, e de novas descobertas acerca de si mesmos, pelas respostas que são dadas aos desafios propostos e aos obstáculos que se colocam tanto aos artistas como a cada um dos membros da comunidade.” (RODRIGUES, 2017, p.109).
Fricção 2 aconteceu nas imediações do Instituto PROCOMUM, com a participação de 4 artistas da Colaboradora. Fomos lentamente nos deslocando pelas calçadas, observando, encontrando, (re)parando. Chegamos ao ponto de ônibus da esquina, com cadeiras coloridas. Convidamos as pessoas para sentar e conversar. Foram conversas rápidas e intensas sobre estar ali. Um novo hábito para quem não tem onde sentar no ponto e para quem nunca tinha parado naquele ponto. Um encontro de ethos, de fricção de mundos e de camadas do território.
Referências Bibliográficas
CREHAN, Kate. Community Art: An Anthropological Perspective. 1. ed. Oxford, New York: Berg, 2011.
RODRIGUES, Teresa Palma. Arte e Comunidade: Projetos de Intervenção Artística e Inclusão Social. Revista Farol, [S.l.], n. 17, p. 101-110, ago. 2017. ISSN 1517-7858. Disponível em: <http://periodicos.ufes.br/farol/article/view/17077/11803>. Acesso em: 28 nov. 2018.
SITE Specific. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo5419/site-specific>. Acesso em: 28 de Nov. 2018.
Por Marina Guzzo