Poeta santista lança sua primeira coleção de poemas na Realejo Livros, sábado, às 18h30, em atividade que antecede a realização do Festival Tarrafa Literária

não sabia

que incomodava

ser quem sou

até começar

a incomodar”

(Ornella Rodrigues)

O livro Como Domar um Coração Selvagem é a primeira coletânea da santista Ornella Rodrigues. Reúne 74 poemas e foi editado pela Editora Fractal, de São Paulo. No sábado, na livraria Realejo, a partir das 18h30, com discotecagem da DJ Afreekasia, Ornella irá compartilhar o resultado desta sua estreia literária com o público de sua cidade natal. No mês passado Como Domar um Coração Selvagem foi lançado em São Paulo, no quilombo urbano Aparelha Luzia, e já há lançamentos previstos para Rio e Bahia nos próximos meses.

Aos 39 anos, Ornella, também performer e fotógrafa, desponta como uma voz singular em nossa região. É uma expoente deste que talvez seja o mais importante fenômeno editorial brasileiro contemporâneo: a literatura de mulheres negras. “Escrever para não morrer/não é só metáfora/de escritor branco”, escreve, a certa altura, no livro. Mas mesmo neste campo, sua obra é singular, conforme afirma no prefácio o poeta Marcelo Ariel: “Ornella não está só e é parte de uma poderosa corrente de vozes femininas que anunciam a força do corpo como potência”.

Formada em letras na Universidade Católica de Santos e com especialização em Psicopedagogia na Universidade de Santa Cecília (UNISANTA), ela atualmente é uma das 13 artistas integrantes da incubadora de criatividade A Colaboradora, desenvolvida no LABxS (Laboratório Santista). Seu trabalho como fotógrafa pode ser acompanhado na página do Facebook Ornelle Marie Photographer e seus poemas também são compartilhados nas redes sociais.

“A poesia é uma forma de exterminar meus fantasmas, de colocar um pouco da minha vivência enquanto mulher negra, gorda, fora de padrão, principalmente nessa sociedade tão normativa e cheia de rótulos”, diz, em texto publicado no posfácio do livro pelo jornalista Leonardo Foletto. Muitos dos poemas partem dessa sua experiência sensível do mundo, mas não se tornam panfletos ou caminham na direção da denúncia social. Pelo contrário, em sua estreia, Ornella escreveu um livro de amor, em que expressa a imensidão de sentimentos que lhe atravessam.

minha poesia

sai do coração

sangrando

batendo

acelerado

tudo que escrevo

é vivo

intenso

nada é abstrato”

Os poemas, aliás, não têm título, o que faz com que o livro possa ser lido como uma única grande obra. Nele, os temas vão e vem, com diferentes ênfases, contornos, produzindo no leitor distintos sentimentos, como empatia, admiração e desejo.

Ser poeta

negra

resistir

quando

o desejo

é apenas

viver”

Escritora desde criança, Ornella só se assumiu artista recentemente. Antes, pôs sua escrita a serviço da militância feminista e do movimento negro, campos de luta com os quais segue associada até hoje, embora de outras maneiras. Outro aspecto fundamental de sua biografia que reflete em seu trabalho é sua religiosidade, uma vez que é filha de Oxalá e Oxum e em muitos dos poemas ela tematiza sua relação com as e os Orixás.

VEJA ALGUNS OUTROS TRECHOS DE POEMAS DE ORNELLA RODRIGUES

“mereço profundeza

busco o abismo”

“então

faça

do meu

corpo

rio

navegue

sem rumo

sem medo

de

temporais”

“será possível

um corpo

comportar outro

não fazer dele cais”

SERVIÇO

Lançamento do livo Como Domar um Coração Selvagem, de Ornella Rodrigues

Onde: Editora Realejo (Rua Marechal Deodoro, nº 2, Gonzaga, Santos)

Que horas: a partir das 18h30, com discotecagem da DJ Afreekasia

Custo: gratuito; livro será vendido no local