Chego em Salvador de madrugada depois de uma viagem turbulenta, depois de uma semana turbulenta.
Sem dinheiro, mas cheia de esperança. Os caminhos são tortos, eu sei, mas no final tudo dá certo.
Eu sei!
Laroye Exu, peco sua permissão pra entrar na sua cidade, na sua rua!
Os bambuzais me recebem na entrada da cidade e eu choro, choro como a chuva que me recebeu na descida do avião.
Não consegui dormir sem antes ver o mar.
Ondina é o mar, o nome da minha mãe.
Tao verde, minha vontade é mergulhar, mas não posso.
Sigo pra minha primeira caminhada, vou ate a Gamboa de Baixo.
Sobe um morro sem fim, depois desse uma ladeira, e o final é o mar.
O cheiro de maresia, os gatos atrás do peixes e uma gente feliz, em plena segunda
Fazendo churrasco na laje.
Quero guardar na retina todo esse povo preto.
Quero guardar no coração toda essa alegria e nunca mais partir.
Peixe fresco, cerveja e crianças se jogando no mar.
Final de tarde. Primeiro dia.
Outro dia, partir pra Santo Amaro, depois Cachoeira.
Duas horas se passam e vejo pessoas vendendo frutas pela estrada, uma terra vermelha, um sol quente, tão quente como meu coração.
Parece que voltei pra casa quando vejo as primeiras casas e o rio.
Chego em Santo Amaro e logo percebo que nunca estive só, mas sim, perdida.
Minha cor predomina, minha religião é única.
Como um pais, como um universo.
Quero morar no sorriso da senhora que corta cana na rua.
Preciso continuar, Cachoeira me espera e não via nenhuma queda d’Água
Mas tem um rio enorme cortando a cidade Paraguaçu, que guarda uma serpente escondida debaixo da ponte que cruza a cidade.
Cachoeira me recebe a tarde, quando o sol se esconde atrás dos morro que parece um presépio. Durmo em São Felix e acordo com um cemitério na frente, mas logo em cima tem um terreiro.
Coisa de preto mesmo. Coisa de quem tem axé!
Antes da deriva tem um café, que aqui é média, e tem suco de Umbu.
Porque eu preciso ir embora?
Posso morar aqui nesse café?
Posso viver aqui, e deixar meus sonhos vivarem estrelas no cabelo das meninas na rua.
Eu choro mais uma vez, mas é porque Oxum sabe.
Nada é por acaso e eu preciso voltar pra Salvador.
Choro e dor.
O mar de Ondina é uma segunda casa.
O Pelourinho é a casa grande.
Triste de olhar.
Me despeço da Bahia numa sexta feira, um dia branco, em frente a morada de Yemanja.
Choro pela última vez no caminho do aeroporto.
Mas os bambuzais prometem que eu volto, logo.
Feito vento!
Ornella Rodrigues