Em agosto estive duas semanas na comunidade do Passo da Pátria em Natal
Tradicionais ribeirinhos, hoje se misturam em meio ao urbano da capital de Rio Grande do Norte
Um dia enquanto pintava a casa de Shirley a beira do Rio Potengi
Me chegou um caminhão recheado de entulho de obra e ai, ao lado de mim e das tintas, se despeja
O entulho serve de barragem para proteger o calçamento da maré forte que o destrói
Descobri isso ao perguntar ao Cigano, morador da comunidade e responsável pelo entulho em questão
Por antes do almoço isso passou
Comentei com Nino, líder comunitário e dono da área social oficial, o bar
Tomávamos Pitu para acompanhar a chegada do pirão a mesa
Me contou que isso altera o Ph do mangue e que junto a alguma universidade vão tentando resolver.
Regressemos ao entulho, onde está o mural
Lá estava Jorge com uma pá jogando os restos de alvenaria calçamento abaixo.
Trocávamos dez minutos de palavras a sombra e trabalhávamos trinta. Era muito sol
Fiquei 8 dias pintando este mural, são muitos, mas não vem ao caso
Pude entender algumas rotinas e fazer parte delas.
Minha preferida era a do fim do sol.
Que basicamente era ficar de sombra em sombra, proseando enquanto o sol se vai.
Dessas sombras… a mesa de carteado das mulheres, é o mais curioso. Obvio que valendo dinheiro, que era guardado no sutiã. Mas…. incrível como rodava três ou quatro conversas ao mesmo tempo, junto a jogatina. Sem falar das crianças, animais de estimação, pessoas que passam, pessoas que ficam. Muita informação na mesma mesa e de alguma forma, controlada! Enfim…
Regressemos ao entulho! E mudemos de sombra…
Cigano e Jorge se encontram neste momento do dia, a minha frente
Trocam agradecimentos! Um pelo braçal da pá e outro pela logística do caminhão
Dizem algo como, é para nós, alguém teria que fazer, estas coisas e já mudam de assunto
Neste momento percebi que eles não tinham combinado nada!
Fizeram o que deve ser feito pelo comum de todos, neste caso fisico, a rua.
Até me pareceu muito simples.
Que sorte tive de presenciar essa história, me abriu um clarão no escuro.
De minha experiência com o comum, destaco:
A dificuldade que tenho com o pensamento e proatividade do comum no diário e simples
Bruno Malagrino
Artista da Colaboradora