Por Cássia Sabino
É sempre com muita delicadeza e respeito que falo dos meus ancestrais. Por todo chão que piso, procuro vestígios e influências dos meus. Hoje, a Bacia do Mercado pode parecer deteriorada, mas a forte presença de símbolos católicos e maçônicos, mostra que sua pior fase não é o hoje e, me pergunto: “À quem pertencem as ruas daqui? E quem às protege?”.
Em uma das minhas pesquisas sobre o território, descobri que a Santa Bakhita – uma santa africana da Igreja Católica – foi canonizada (tornou-se oficialmente santa) após a construção da Igreja Santa Bakhita na Vila Nova, Bacia do Mercado.
Essa descoberta – assim como qualquer outra sobre meus ancestrais – me emociona, frustra e potencializa minhas ações. A história da Josefina Bakhita é similar a de muitos africanos que foram escravizados, colonizados e catequizados.
Ela foi sequestrada, torturada e vendida. Teve seu nome original e suas noções de vida apagados. Foi forçada a servir uma família europeia católica escravocrata. Dizem que Josefina Bakhita é grata à escravidão e aos escravocratas por terem feito dela uma cristã e religiosa.
Mesmo que sua história tenha sido construída no Sudão e na Itália, Josefina Bakhita encontra-se aqui de certa forma. Sua história junta-se com outras histórias que circulam pela Bacia do Mercado. Outros africanos, outras mulheres, ainda encontram-se aqui: nas ruas, calçadas, vielas, nos morros. Nem todos receberam o título de santos, mas todos são divinos.