Cássia Luiza Sabino de Souza é mais jovem participantes da Colaboradora. Tem 21 anos, está terminando o curso de Relações Públicas na Universidade Católica de Santos (Unisantos) e é, como muitxs dxs integrantes do projeto, multi-artista: desenha, discoteca, canta – e produz muitos de seus próprios eventos. Conta que faz pouco tempo que se entende como artista e que muito dessa noção se deu a partir de sua identificação enquanto mulher negra. “Foi no desenvolvimento do meu ser que comecei a dar mais importância para a arte”, conta ela, que vê essa descoberta comum à outras mulheres. “Minha geração se enxerga como parte da diáspora africana, percebemos que temos uma conexão com a África, mas não estamos mais lá. Então nossa postura, linguagem específica, se dá a partir do reconhecimento dessa origem, mas muito do lugar que você habita hoje”.

O lugar que Cássia habita é Santos e a Baixada Santista, esse território onde vivem mais de 1 milhão de brasileiros de todos os tipos, origens e raças. Mais especificamente, Cássia vive no Canal 5 e mora num BNH, nome dado ao conjunto de edifícios de moradia popular construídos a partir de 1964 pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), empresa pública voltado ao financiamento e à produção de empreendimentos imobiliários. Sua relação mais próxima com a Bacia do Mercado, região do LabxS, é recente; quando trabalhava no centro, passava pelo lugar todo dia, se interessava em saber o que ali ocorria, mas, como muitos santistas, não costumava parar. Passou a conhecer mesmo as ruas ao redor do Mercado Municipal quando seu namorado, Guilherme, foi morar no bairro. Aí passou a circular mais, ir a brechós – que ela adora, mesmo que não necessariamente vá para comprar – e comer, suas duas principais atividades na região. Com a Colaboradora sua presença pela Bacia do Mercado tem crescido ainda mais; costuma aparecer nas tardes, já que pela manhã costuma resolver suas coisas (projetos artísticos, trabalhos da universidade) por casa, às vezes ir na praia também.

Cássia se envolve em vários projetos artísticos. Um deles é o Festival de Arte Preta, que idealizou e organiza com mais outras três mulheres (Thayná Prado, Vitória Nicolau e Mariana Rodrigues, também criadoras do coletivo Portal Umoja) e que teve sua última edição em maio de 2018, no LabxS. Com uma programação diversificada, o Festival busca dar destaque a produção feminina e afrocentrada, além de promover um intercâmbio cultural entre jovens negras da Baixada e de São Paulo. Foi um dos 15 projetos selecionados na 2º edição do Circuito LabxS, que recebeu 123 propostas de ações de inovação cidadã e cultura livre na Baixada Santista.

Desenho de Cássia, fonte: Facebook Afreekassia

Outro projeto é Punanny Sound System, que trabalha com a identidade, a sexualidade e a sonoridade da mulher preta. É a partir de Punanny que ela tem seu alter-ego musical, Afreekassia, DJ e MC que toca em diversas festas e locais da Baixada. Recentemente, fez uma playlist sob encomenda em que selecionou só músicas de mulheres negras, como Erykah Badu, Lauryn Hill, Lil’ Kim, Missy Eliott e Destiny’s Child. Seu foco enquanto artista é esse: trazer o frescor do feminino junto com o calor e a genuidade dos ritmos: “Reúne sons que se propagam no íntimo rude e sensível da coletividade preta e ecoam mundo afora, movimentando corpos, provocando a dança e abrindo orís”, como descreve o texto de divulgação em um evento recente em que participou tocando. Seu trabalho enquanto DJ pode ser visto também no SoundCloud. Também é integrante do Incognito Rap, juntamente com outros 2 artistas (Gldngolden e Groovysic).

As expectativas de Cássia com a Colaboradora são várias. A primeira é a de dar mais consistências às suas produções; a segunda, a de estar em contato com outras pessoas, vendo o que elas fazem, artistas que estão há mais tempo na estrada que ela – uma troca que ela comenta que já está ocorrendo, em conversas e algumas ações, neste início de projeto. A terceira é produzir alguma ação para o território. “Quero fazer coisas novas, expandir horizontes”, diz.

Foto: Vinícius Rando

 

 

PROJETO

O projeto “Culto às Punannys da Bacia do Mercado” é uma extensão do Punnanny Sound System, um projeto visual e sonoro de autoria própria já existente que visa a representação do calor e frescor do feminino africano sob uma perspectiva diaspórica.

Ao cultuar a energia preta e feminina por meio da materialização da estética, da identidade, da sexualidade e da sonoridade das mulheres pretas da Bacia do Mercado, busca-se submeter o território à um processo de cura. Quero conhecer os elementos e as características que compõem o abstrato preto e feminino do território em questão, divinizá-lo e colocá-lo em exposição.

Para saber mais: https://medium.com/@punannysoundsystem

RELEASE PROFISSIONAL

Nascida em Santos, Afreekassia é DJ, MC e produtora. Ela enxerga a arte como uma ferramente de busca da ancestralidade e também, como uma possibilidade de estabelecer conexões na diáspora africana. Traz na natureza de suas produções e reproduções a estética, a identidade e a sensibilidade preta e feminina. Ela faz parte do coletivo de DJ’s Alce Negro e explora na discotecagem a sonoridade do Punanny Sound System, reunindo sons que se propagam no íntimo rude e sensível das mulheres pretas e, ecoam mundo afora movimentando corpos, provocando a dança e abrindo orís. Essa sonoridade também está expressa nos registros sonoros do grupo Incognito Rap, onde a artista é MC juntamente com outros dois artistas. Afreekassia também é idealizadora e coordenadora do Portal Umoja, um coletivo de mulheres negras que buscam por meio da produção coletiva de arte, unir e representar as mulheres negras.