Ugo Castro Alves é músico, arte-educador e produtor. Desde o início de sua carreira como artista, entendeu que tinha de fazer um pouco de tudo para fazer “a coisa” acontecer. O tudo, no caso, é foto, design, vídeo, buscar recursos, produzir, gerenciar páginas nas redes sociais, escrever projeto e até ir na Câmara dos vereadores ou Deputados pleitear alguma emenda parlamentar. “A coisa” é sua arte; música, mas também teatro, circo… “Busco agir politicamente de uma forma cultural para que as coisas aconteçam”, contou, no intervalo do 2º dia de imersão da Colaboradora.
Alto, com cabelos compridos escuros, óculos e voz mansa, Ugo começou a estudar música aos 15 anos em Campinas, sua cidade natal. Anos depois, entrou para a Unicamp para fazer Bacharelado em Composição Musical. Lá se formou, conheceu a cantora Lua Marina, que viria a ser sua esposa. Com ela e mais outros integrantes foram se aventurar em morar fora do Brasil e viver de música. O destino foi Paris, na França, e lá ficaram dois anos tocando o que eles chamavam de “forró elétrico” com a Saramandaia; Ugo no violão e voz, Lua no vocal principal. Depois de passarem por outras bandas e projetos, voltaram ao Brasil em 2010, desta vez não para Campinas, mas para São Vicente, cidade natal de Lua. Recomeçou (ou continuaram) a carreira de músicos e produtores culturais, agora com a produtora Reverbere, que assim como Ugo, trabalha com múltiplas linguagens e uma variada gama de projetos.
São necessários alguns parágrafos para falar dos vários projetos do inquieto músico, produtor cultural e arte-educador com sobrenome de poeta, então começamos por um que tem especial ligação com a Colaboradora: o Komboio Cultural. Nasceu de uma demanda conhecida de artistas Brasil e mundo afora, a ausência de espaços para apresentações culturais, em 2013. Ugo e o artista Alan Plocki, idealizadores do projeto, resolveram então montar uma estrutura itinerante para ocupar ruas e praças da baixada levando vários tipos de artes para os espaços. São duas kombis com sistema de som integrado, que transporta os artistas (Ugo, Alan e mais uma trupe que varia em cada situação) e serve também como equipamento técnico para as apresentações, que reúnem música, teatro, brincadeiras, circo, pintura, entre outras artes que podem ser vistas nesse teaser.
Ugo conhece a região da Bacia do Mercado a partir especialmente de um evento que fazem, pelo Komboio, de ocupação da Rua do Meio, do lado do Mercado Municipal. “Fizemos um projeto de um ano ocupando a rua, que agora está virando projeto de lei. O foco é ocupar e trazer o brincar para as crianças da região, do cortiço”, conta. A proposta de diálogo do território é importante também para estimular a comunidade a tomar conta de suas praças e arredores. “Dá para voltar a ocupar a rua, mesmo com tantas notícias absurdas de repressão”, contou o músico em matéria publicada em maio de 2018 no Diário do Litoral. Ter essa relação da arte com o território tão enraizada em seu trabalho foi um dos fatores que fez Ugo ser um dos participantes convidados da Colaboradora.
A palavra “brincar” e crianças” estar presente em vários momentos num texto para falar de Ugo não é por acaso. Desde que tornou-se pai, primeiro de Alice (hoje com três anos) e depois com Rudá, 9 meses, começou a trabalhar bastante com os pequenos. Quando ele e Lua Marina estavam esperando Alice, fizeram muitas músicas juntos para a então bebê, e partir daí o que era espontâneo passou a tornar-se também profissional. Assim nasceu o projeto Ziguezaguiá, que pesquisa, cria e produz conteúdo musical infantil e já gravou um disco, além de diversas oficinas pela Baixada e um bloco de carnaval para os pequenos. Hoje, Ugo também é professor de música para crianças na Escola Waldorf Imperatriz Leopoldina, na Ponta da Praia, e no Instituto Arte no Dique. Em ambos lida com diversos instrumentos, como o violino e a flauta, para além daqueles que está acostumado a tocar e compor, os de cordas (violão, viola, guitarra, baixo). “A musicalidade é uma delícia, transitar por outros instrumentos faz parte disso”, conta ele, que não por acaso trouxe como o seu “superpoder”, na imersão inaugural da Colaboradora, a Música.
Com os parceiros do Komboio e Lua Marina, também mantém o projeto “Brincando na Rua”, que além da Rua do Meio já transitou por mais de 86 escolas da região, em especial na Semana Mundial do Brincar, em maio. Outros projetos de Ugo ainda incluem o Porto Circense, um “bando artístico-cultural que promove oficinas de circo e ações para disseminação e popularização das artes circenses pela Baixada Santista” em seu espaço, um galpão na rua Almirante Cochrane, 404, na região do Macuco. Há ainda o “Presepada”, programa que Ugo e seu parceiro Alan falam da cena cultural da Baixada na Rádio Silva, web rádio ligado ao campus da Unifesp em Santos. E, ufa, o MAIS, movimento de música autoral e independente de Santos, que organiza festivais para incentivar a produção de música autoral na região, além de todos os projetos musicais em que Ugo continua tocando, seja com Lua Marina e o Saramandaia ou com diversos artistas como Simone Ancelmo e Conrado Pouza, que podem ser acompanhados a partir da página de Ugo no Facebook.
É assim que Ugo faz a “coisa” acontecer.
RELEASE PROFISSIONAL
Nascido em Campinas, SP, começou a criar suas primeiras composições aos 17 anos. Foi estudar no Conservatório Carlos Gomes, no Conservatório de Tatuí e na Unicamp. Tocou em diversos grupos e logo começou a produzir também, entendendo que a produção era parte essencial do fazer cultural. Em 2009 se mudou para França à convite de uma banda, onde morou por 2 anos, tocando com diversos artistas e em vários festivais. Na volta ao Brasil estabeleceu-se em São Vicente. Em 2011 montou sua produtora Reverbere Cultura em Movimento e em 2012 gravou seu primeiro disco autoral com sua esposa e parceira Lua Marina, o “Sonho de Voar”. Foi com esse disco que foi convidado para o Festival Internacional de Jazz de Perth na Austrália. Seu segundo álbum foi o Zigzaguiá, para a criançada, apresentado em shows, espetáculos, grupos e produções. Acreditando sempre na força do fazer coletivo, em 2013 fez parte da criação do MAIS (Música Autoral e Independente Santista) que produziu um festival de 3 dias consecutivos em espaços públicos e que contou com a participação de 23 artistas. Mais recentemente, a partir da inquietação de ocupar os espaços públicos, desenvolveu o Komboio Cultural com o parceiro Alan Plocki.
E com esta plataforma que leva consigo diversos artistas e linguagens, roda ruas, praças, eventos, escolas, festivais, etc, levando arte e cultura pra toda gente, seguindo produzindo, resistindo, sonhando e acreditando na força transformadora do que me move, a Arte.